21 janeiro 2011

Viagem ao Chile - uma introdução


Nessas férias queria ir para o Uruguai. Cheguei a trocar e-mails com o confrade Jeriel da Costa, que recentemente visitou muitas bodegas por lá.
Falei com minha esposa sobre a possibilidade e ela gostou. Gostou como eu gosto de assistir Friends: é divertido, informal, não me faz crescer, mas também não me desgasta emocionalmente.
Percebendo um certo desânimo, disse: “ou podemos ir ao Chile”. Bom, aí os olhos dela brilharam, tanto quanto os meus brilham quando vejo uma garrafa de Pinot Noir. Assim, democraticamente, estava decidido. Vamos ao Chile.

De início uma decisão: nada de pacotes que te levam somente às grandes vinícolas e engessam o turista. Optamos por alugar um carro para ter mais liberdade e decidimos nos hospedar em três cidades: Melipilla (para visitar os vales de Casablanca e San Antonio), Rancagua (para os vales do Rapel e suas subdivisões Cachapoal e Colchagua), além de Santiago, para conhecer a capital e as vinícolas em seu entorno, no Vale do Maipo.

Chegamos no dia 11 e voltamos no dia 18 de janeiro. Portanto, seis dias de total liberdade para explorar esse grande país produtor.

Depois de 1.312 km rodados, conseguimos “encontrar” 21 vinícolas. Digo encontrar porque em algumas exploramos o que era possível (tour, degustações, almoços etc), mas noutras apenas visita aos vinhedos ou portão fehcado. Mas tudo foi registrado em mais de 600 fotos.

Algumas constatações (saindo da obviedade de que os vinhos tem uma qualidade média muito boa):

- os chilenos conhecem pouco suas vinícolas – percebemos isso quando pedíamos informação nas estradas e cidades. Incrivelmente apenas a Concha y Toro nos foi indicada quando já estávamos próximos a ela. As demais, nada! Essa informação foi confirmada por vários atendentes nas bodegas, que nos diziam: “vocês do Brasil conhecem mais nossos vinhos e nossas vinícolas do que os próprios chilenos”. E mais: “os chilenos não nos visitam”. Fiquei surpreso, mas é uma realidade. Apesar de tudo isso são gentis em tentar ajudar o turista. Numa borracharia em San Antonio (já no litoral do Pacífico), de repente me vi rodeado por cinco chilenos tentando decifrar o mapa que eu tinha em mãos. Quando cheguei lá só havia duas pessoas e as outras foram se agregando ao grupo na medida em que a discórdia se instalava. Não ajudaram muito, mas valeu a tentativa.

- a Carmenère é uva símbolo do país apenas nas campanhas de marketing – em quase todas as vinícolas visitadas a uva que para nós brasileiros simboliza o Chile é utilizada apenas em cortes ou varietais menos expressivos. Em nenhuma delas é o vinho top. Dentre as tintas esse rótulo cabe à Cabernet Sauvignon (Maipo) e à Syrah (Casablanca, San Antonio, Cachapoal e Colchagua). As brancas são um sucesso nos vales mais próximos ao Pacífico (Casablanca e San Antonio).

- os livros não substituem uma visita in locoa partir dessa viagem nossa percepção sobre o potencial de cada região, as uvas mais propícias, os manejos diferenciados a depender do clima, a vivência da história de vinícolas gigantes e outras bem modestas, as dificuldades em relação à obtenção de água etc, tudo isso mudou bastante. Visualizar o que estava somente nos livros é outra coisa.

- Quanto ao país e seu povo:

- os chilenos são solidários, simpáticos, gostam do Brasil e fazem piada com a Argentina (coisa de chileno).
- adoram sua bandeira, que está em tudo, até nas homenagens aos mortos nas estradas (nunca vi tantas).
- as rodovias estão em ótimo estado na maioria dos casos. Mesmo nas rodovias mais interioranas o estado é bom. Não caí em nenhum buraco. Os pedágios são muitos, mas são baratos. O mais caro que paguei foi de 1.200 pesos, algo como R$ 4,70, mas a maioria ficava em torno dos R$ 2.
- ao se comparar o Real e o Peso Chileno em relação ao Dólar, percebe-se que os preços de serviços, hotéis e restaurantes se equiparam aos nossos. A gasolina é mais cara.
- os vinhos chilenos dominam lojas e supermercados. Lugar de vinho importado é num cantinho escondido.
- paga-se em alguns casos 1/3 por uma garrafa de vinho lá em relação ao preço do mercado brasileiro.
- Santiago é uma cidade bonita, limpa, segura e interessante – é só conferir!!!

Vou publicar periodicamente – intercalando com os vinhos que já estão programados – uma pequena resenha sobre cada vinícola visitada. Depois essas informações irão para uma página que pode ser acessada na barra superior do blog. Assim como há uma para as Vinícolas BRA, haverá uma para as Vinícolas CHI.

Agradeço ao confrade Cristiano Orlandi, que me deu preciosas dicas, especialmente em relação a uma vinícola que nos encantou.

Boa leitura!

P.S.: a TAM poderia servir um vinho melhor na viagem Guarulhos-Santiago. Com todo respeito, o Miolo Seleção não é um representante à altura do vinho brasileiro, se essa foi a intenção.

7 comentários:

Anônimo disse...

Gil,

Acompanharei atentamente seus posts. Sou confessadamente um entusiasta dos vinhos chilenos e não escondo isso de ninguém. Em poucas linhas vc disse tudo. Os chilenos bebem muita cerveja e pisco. Visitei algumas vinícolas fora de Santiago, tomando ônibus mesmo. Uma experiência inesquecível. Os chilenos são cordiais sobretudos com os brasileiros. Nos ônibus não só o motorista, como os passageiros ficavam preocupados em me orientar corretamente. Todas as visitas foram realizadas sem nenhum contratempo ou surpresa. Aliás, surpreendente é a acolhida desses que são nossos verdadeiros irmãos. Devo volta em 2011.

abraço


Jeriel

Cristiano Orlandi disse...

Gde Gil,

Foi um prazer, se bem que eu acho que ajudei tão pouco...

Forte abraço!

Administrador disse...

Jeriel e Cristiano,

suas opiniões são sempre muito válidas pra mim. Fico muito feliz que sejam leitores do blog e compartilhem aqui suas opiniões.

Grande abraço.

Fernando disse...

Achei o texto muito legal para dar uma idéia de como são as coisas por lá. Coisas simples mas muito interessantes.
Fernando

Silvia disse...

Ola Cristiano,
sou uma apaixonada pelo Chile e pelos vinho chilenos (quase tanto quanto sou pelos vinhos brasileiros).
Conheço 34 vinícolas no Chile e é bem verdade o que vc escreveu: os próprios chilenos quase não conhecem suas vinícolas. Mas há uma diferença enorme em relação aos brasileiros: eles bebem vinho, sempre. Nenhuma refeição está completa sem vinho para eles.
Minha última viagem foi de Lan (as próprias linhas aéreas chilenas) e o vinho era péssimo. Genérico. Se fosse um Miolo Seleção branco teria sido melhor...risos.
Também estou ansiosa por seus posts.
Você foi até a Casa Silva, onde o Mario Geisse é um dos donos? Aquela pousada caiu quase completamente com o terremoto do ano passado.
Bom gosto à chilena.
Grande abraço,
Silvia

Administrador disse...

Silvia,

que bom (ou não) saber que a LAN também não serve grande coisa em seus vôos. Me senti um pouco menos decepcionado (ou não)!

Sim, fomos até a Casa Silva, até porque conhecemos a Cave Geisse em Pinto Bandeira e sempre voltamos lá nas visitas. Então não poderíamos deixar de visitar a vinícola e tentar falar com o Mário GEisse, mas ele não estava nesse dia.

O lugar é lindo.

Abraço,

VPT

Anônimo disse...

Muito legal o post! Estive no Chile 8 vezes à trabalho nos últimos 2 anos, e só havia tido tempo de ir na Concha y Toro. Mas agora, estive lá de novo com a minha esposa de 22 a 26 de janeiro, e fiz um tour com degustação na Casas del Bosque, no Valle de Casablanca. Achei excelente! Muito interessante os enormes ventiladores que eles têm para misturar o ar frio com o mais quente, principalmente no mês de setembro, para não prejudicar o crescimento das folhas! Imagino o gasto para se manter tudo isso.
E sobre os preços, é isso mesmo: 1/3 do que se paga aqui. Por isso, toda vez volto com uma caixa...
Abraço e parabéns pelo blog.

André Choma
Curitiba
aac1905@bol.com.br